Uma pesquisa de opinião realizada com professores de escolas públicas do ensino fundamental e médio de todo o Brasil mostra que apenas 19% concordam totalmente que os atuais cursos de graduação de pedagogia e licenciaturas estão preparando bem os docentes para o início da profissão.
A pesquisa foi encomendada ao Ipec em parceria da ONG Todos Pela Educação com o Itaú Social, o Instituto Península e o Profissão Docente e ouviu 6.775 professores de escolas de ensino regular da rede pública (municipal e estadual).
Para 84% dos professores, os cursos presenciais formam docentes melhor preparados – apesar de seis a cada 10 professores formados no Brasil terem, em 2020, se graduado em cursos a distância. Além disso, 56% dos professores entrevistados afirmam não terem recebido orientação específica em seu primeiro ano de docência, quando estudos demonstram que a curva de aprendizagem é muito mais alta nos cinco primeiros anos de prática.
O diretor de políticas públicas do Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, afirma que a pesquisa reforça a necessidade de políticas específicas no âmbito federal e de melhorias na formação docente, pauta central para a valorização da profissão. “O Ministério da Educação tem, nesse início de gestão, a oportunidade criar um conjunto de políticas para apoiar e induzir avanços nos cursos de pedagogia e licenciaturas. Isso passa, por exemplo, por rever a forma como os cursos são avaliados e fortalecer programas de aproximação dos futuros professores com as escolas públicas, como o Pibid”, diz.
Além dos desafios relacionados à formação inicial, outras preocupações são evidenciadas na pesquisa, como a valorização da categoria, a progressão de carreira e os desafios da profissão.
Valorização
Os professores não se sentem incluídos na elaboração de políticas públicas e programas educacionais em sua rede de ensino. De acordo com a pesquisa, 92% dos profissionais concordam que gostariam de participar mais do desenho dessas políticas. Apenas 7% dos entrevistados concordam que, no país, os professores são tão valorizados quanto médicos, engenheiros e advogados.
Mesmo com a desvalorização, os professores ainda escolheriam seguir na profissão, conclui a pesquisa. Cerca de oito em cada 10 profissionais permaneceriam se pudessem escolher novamente. Para a diretora de políticas educacionais do Instituto Península, não há quem discorde da importância do professor para a sociedade, mas é preciso que a profissão seja mais atraente. “A valorização pretendida é uma compreensão coletiva de que a carreira precisa ser mais atrativa, com condições de trabalho adequadas e ofertas consistentes e coerentes de desenvolvimento profissional”, afirma.
Progressão de carreira
Para a maioria dos docentes, 94%, a progressão na carreira deve vir por meio da melhoria da prática pedagógica. Em outras palavras, esses profissionais acreditam que professores que conseguem garantir melhores condições de aprendizagem para os estudantes devem avançar mais rápido na carreira. Hoje, em geral, professores avançam na carreira por titulação e tempo de serviço.
Para Haroldo Corrêa Rocha, coordenador-geral do Movimento Profissão Docente, os dados
mostram que é grande o número de professores insatisfeitos com as próprias carreiras, que, de
acordo com suas demandas, precisam ser modernizadas e atender às expectativas de ascensão
profissional com oportunidades de melhorar as práticas pedagógicas.
“Um plano de carreira bem estruturado deve ser aquele que, entre outras questões, foca em
habilidades e competências para aprimorar a prática docente e potencializar o desenvolvimento
profissional. O projeto de carreira e o mecanismo de progressão devem ser instrumentos que
caminham juntos em prol do fortalecimento da docência, que por consequência irá reverberar
positivamente no processo de aprendizagem dos estudantes”, explica Haroldo.
Desafios do dia a dia
Os professores apontam que a defasagem na aprendizagem dos alunos é um dos principais desafios da profissão atualmente — 28% apontam esse como o principal desafio — o que pode ter sido agravado pela pandemia de Covid-19. Eles também citam o desinteresse dos estudantes pelas aulas (31%) e a indisciplina dos estudantes (18%), sendo esses três elementos os mais apontados pelos docentes.
A superintendente do Itáu Social, Patricia Mota Guedes, ressalta que a implementação de programas de reforço e recomposição das aprendizagens devem ser prioridade. “São necessárias ações estruturadas nas distintas instâncias da gestão educacional, desde as secretarias, gestão das escolas até novas práticas pedagógicas na sala de aula para dar conta dos desafios”, argumenta.
A pesquisa
Como parte da iniciativa Educação Já – agenda sistêmica que apresenta diagnósticos e propostas para o enfrentamento dos principais desafios da Educação brasileira – o Todos Pela Educação tem realizado um amplo processo de escuta com atores da comunidade escolar. Em 2022, outras pesquisas captaram as percepções de alunos e diretores de escolas públicas de todo o país. O intervalo de confiança da pesquisa com professores encomendada ao Ipec é de 95% e a margem de erro é de 1 ponto percentual para mais ou para menos sobre os resultados analisados considerando o total da amostra.