O Mercado Sul, em Taguatinga, completa oito anos de ocupação — uma vitória para a comunidade da região, que melhorou a qualidade de vida a partir da arte
postado em 23/01/2023 06:05 / atua
A cultura é uma energia transformadora e pode ser usada como uma arma contra a violência e o abandono. O Mercado Sul, em Taguatinga Sul, viu sua realidade mudar ao longo dos últimos oito anos, nos quais o espaço foi ocupado por coletivos artísticos. O que antes era um conjunto de imóveis abandonados, hoje tem a cultura pulsando nos becos e vielas.
Além de levar diversas linguagens desse universo para a região, a ocupação na QSB 12/13 proporcionou mais qualidade de vida à comunidade. Eli Ferreira, 41, mora no Mercado Sul desde 2012. Ela garante que muita coisa mudou desde a chegada do movimento e destaca a questão sanitária. “Lojas estavam abandonadas por décadas, havia acúmulo de lixo, ratos e baratas. O tráfico de drogas tinha forte presença no Mercado Sul. Os criminosos vendiam entorpecentes nas portas dos estabelecimentos abandonados”, relembra. “São problemas que ficaram no passado. E iniciativa leva arte para a comunidade, como oficinas de capoeira, teatro e espaços de vivência para as crianças”, completa Eli, produtora cultural e poetisa.
Quem acompanha tudo isso desde sempre é Ramona, nome artístico de Juliana Letícia, 23. Ela estava entre os primeiros a se instalarem no espaço e ainda mora na região, onde está à frente do Estúdio Molotov, de produções audiovisuais voltadas para artistas periféricos. Ramona também faz parte do coletivo de dança vogue Casa de Onija, um dos pontos de resistência LGBTQIA do Mercado Sul. “Fui uma criança que cresceu aqui. Hoje, sou formada em audiovisual, mas foi aqui que descobri o cinema, pelos cineclubes, e uso essa arte para trazer luz para essas populações historicamente marginalizadas”, recorda a artista.
“O Mercado Sul trouxe autonomia para famílias de baixa renda, e com a minha não foi diferente. Minha mãe conseguiu construir o próprio restaurante, onde serve a culinária tradicional do Nordeste, um negócio que atende a própria comunidade”, conta Ramona. Ela e a mãe são indígenas potiguaras de Ceará-Mirim (RN). “Aqui, trabalhamos com a diversidade de formações e manifestações artísticas e políticas. O Mercado Sul, inclusive, ajudou a mim e a minha mãe a resgatar as nossas origens enquanto indígenas”, comemora.